quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Incêndio no Morro do Piolho torna a vida dos pobres impossível


No último dia 07 de setembro, por volta das 21h, se iniciou mais um incêndio de enormes proporções na favela Morro do Piolho, zona sul de São Paulo. O incêndio, que deixou 600 famílias desabrigadas (que perderam quase tudo o que tinham, com apenas poucos objetos resgatados pelas famílias), é o terceiro incêndio que atinge a favela. A relação entre a alta incidência de incêndios (que atingiram a favela também em 2004 e 2012) deixa de ser mera coincidência quando se leva em conta que esta se situa numa das regiões que mais se valorizou nos últimos anos (senão a que mais se valorizou) em São Paulo por conta da especulação imobiliária. De fato, informações dadas pelo corpo de bombeiros confirmam que o incêndio foi criminoso, e que os criminosos servem aos grandes especuladores de terrenos urbanos, que querem ver as famílias jogadas como lixo nas ruas para que possam enriquecer seus bolsos com o terreno em questão. Nos dias 10 e 11, membros de vários partidos políticos e movimentos de massa,  incluindo os militantes do Movimento Bandeira Vermelha, visitaram a favela para estarem a par da situação dos moradores.

Quatro dias após o incêndio, o morro mais parecia uma zona de guerra. Bebês recém-nascidos cobertos por lona preta improvisada, sob sol de 35°C, em precária situação decorrente da inalação da fumaça do incêndio, grávidas de oito meses expostas ao sereno, crianças em meio aos escombros de suas casas, moradores impossibilitados de irem trabalhar por conta das perdas de suas casas e seus pertences. Vários tiveram de ser hospitalizados por conta da intoxicação da fumaça do incêndio, conta-se ainda que um morador teve parte de seu corpo queimado pelo fogo. Um vendedor ambulante, também morador do Morro do Piolho, que se encontra agora desabrigado, junto com seus filhos, por conta do incêndio, nos contou que um de seus filhos teve 70% de seu corpo queimado no primeiro incêndio que tomou a favela, em 2004. Vários são também os moradores que manifestavam sua revolta e indignação diante da situação de pauperismo agravado ao qual foram submetidos, dizendo em alto "Fomos abandonados!", "A prefeitura quer que a gente se foda!". Moradores relataram também que políticos corruptos e ávidos por dinheiro e poder, nem mais para fazer campanha, com suas demagogias apareciam. 

Num momento como este, mais do que nunca, os moradores seguem sendo constantemente enganados e enrolados por toda classe de pilantras, corruptos, salafrários, eleitoreiros e lacaios de empreiteiros. Contam os moradores que o suposto "dono" do terreno já havia aparecido tempos antes, oferecendo 80 mil reais (!!!) por família para que estas o deixassem. A prefeitura de São Paulo também se aproveita de um momento tão triste e animalesco (diante da selvageria de um crime como este cometido) para ludibriar os moradores com todo tipo de falsas promessas. A prefeitura prometeu bolsa-auxílio completamente insuficientes para sustentar uma família. Esta fazia demagogia também incitando os moradores a deixarem o terreno para que fossem para albergues ou abrigos cedidos pela prefeitura, dizendo que receberiam casas "em tempo indeterminado" (leia-se: nunca). O prefeito Haddad agora mente, para dizer que moradias populares serão construídas no terreno. Porém, os moradores se recusaram devidamente a sair, não caindo na ladainha dos politiqueiros, e permaneceram no terreno para reconstruir suas casas tomadas pelo incêndio, com materiais de construção cedidos por moradores vizinhos solidários e apoiadores da causa do povo ou obtidos em lixões próximos, moradores estes que também agradeciam pelas comidas e roupas doadas. 

Os monopólios da imprensa reacionária, vende-pátria, terrorista e fascista foram também devidamente rechaçados pelos líderes e demais moradores da comunidade. Colocados em seu devido lugar como mentirosos, com efeito, a imprensa noticiou a situação da maneira mais mentirosa, falsificadora e cínica possível, se esforçando para mobilizar a opinião pública paulista contra as famílias agredidas, retratando pais de família e trabalhadores como "traficantes" e "criminosos", quando na verdade a maior quadrilha deste país, cúmplices dos massacres e torturas contra o povo brasileiro são exatamente Globo, Folha de São Paulo e toda sorte de sua turma de lacaios e pau-mandados. Líderes da comunidade nos relataram a maneira completamente deturpada como a imprensa reacionária retratou a situação, dizendo que "traficantes" causaram o incêndio - ao contrário das lorotas espalhadas nos grandes meios de comunicação, todos falavam e denunciavam que a Polícia Militar, uma hora antes do incêndio, "estranhamente" já estava patrulhando a região. Após o início do incêndio, policiais militares impediram os moradores e até mesmo os próprios bombeiros de apagar o fogo. Existem sérios sinais, portanto, de que a Polícia Militar esteja envolvida com o incêndio do Morro do Piolho.

A calamidade social que se escancara diante de nossos olhos nada mais é do que a ponta do iceberg da guerra fascista levada a cabo pelo governo e a prefeitura paulistas, onde o povo trabalhador e explorado é o inimigo - guerra esta cinicamente batizada de "Operação Urbana Água Espraiada", que pretende levar para a Avenida Roberto Marinho e região todo tipo de obras superfaturadas, financiadas de preferência com dinheiro público, para valorizarem artificialmente os preços das terras e enfurnar de vez os trabalhadores e pobres urbanos em verdadeiros guetos cada vez mais longes do centro. Expressão mais escancarada dessa enorme farra com o dinheiro público são as pedras gigantes que cobrem a av. Roberto Marinho, carinhosamente apelidadas de "Monotrilho Linha 17-Ouro": Monotrilho superfaturado, construído com trilhos, vagões e materiais quase todo importados, cujas promessas datavam para a Copa do Mundo de 2014 sua finalização, não foi concluído nem pela metade. Os monotrilhos, cujos vagões carregam o mesmo número de passageiros que os metrôs, custam ainda quatro vezes mais que os metrôs comuns.

Mais do que nunca, estas famílias necessitam de nossa concreta solidariedade. É necessário que todos os democratas e demais progressistas denunciem a situação deplorável que se apresenta.

MOVIMENTO BANDEIRA VERMELHA
São Paulo, 11 de setembro de 2014.

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