domingo, 30 de junho de 2013

"Sobre o realismo socialista" (Bertolt Brecht)


O conceito de realismo socialista não é algo que se deve retirar de obras e estilos existentes. O critério não deve ser se uma obra ou uma descrição se parecem com outras obras e outras descrições que se incluem no realismo socialista, mas se é socialista e realista.

1. Arte realista é arte combativa. Luta contra visões errôneas da realidade e impulsos que se opõem aos interesses reais da humanidade. Produz possíveis formas corretas de pensar e amplia os impulsos produtivos.

2. Os artistas realistas enfatizam o sensitivo, o terreno, o típico, entendido em sentido amplo (o importante em termos históricos).

3. Os artistas realistas enfatizam o momento de formação e extinção. Em todas as suas obras, pensam historicamente.

4. Os artistas realistas mostram as contradições entre o ser humano e suas relações, e mostram sob as condições em que estas são desenvolvidas.

5. Os artistas realistas estão interessados nas transformações que ocorrem nas pessoas e nas circunstâncias, tanto nas mudanças constantes, como nas repentinas. Que se convertem em constantes.

6. Os artistas realistas refletem o poder das ideias e a base material das ideias.

7. Os artistas do realismo socialista são humanos, isto é, filantrópicos, e mostram as relações entre as pessoas de uma maneira que fortalece os impulsos socialistas. Se fortalece por meio de analises uteis da maquinaria social e pelo fato de que os impulsos se convertem em deleite.

8. Os artistas do realismo socialista não só têm uma visão realista de seus temas, mas também de seu público.

9. Os artistas do realismo socialista levam em conta o grau de formação e a que classe social pertence seu publico, bem como o estado da luta de classes.

10. Os artistas do realismo socialista tratam a realidade a partir do ponto de vista da população trabalhadora e dos intelectuais aliados a ela e que estão a favor do socialismo.

BRECHT, Bertolt. in ‘El compromiso en literatura y arte’; 
ed. Península, Barcelona, 1973,pp. 423-424.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Documentário “Acerca da Cana” denuncia feudalismo e luta pela terra em Pernambuco



O documentário “Acerca da Cana” mostra a situação dos trabalhadores na Usina Tiuma, em São Lourenço da Mata, cidade localizada a 16 km de Recife, Pernambuco. Em troca de uma posse de dois a três hectares nas terras da usina, os camponeses trabalhavam no corte da cana em períodos de safra, o que fazia a usina economizar com os custos dos transportes, da feita que eram nas próprias terras da usina onde os cortadores de cana viviam. Após a valorização do preço da cana, contudo, aqueles que trabalhavam nessas terras eram constrangidos a deixá-las, dado que tais terras ocupadas pelos camponeses poderiam servir para a plantação de mais cana.

Verificando tal situação, parece algo extraordinário, uma peculiaridade da formação histórica brasileira, que mesmo em terras em propriedade de grandes sociedades anônimas capitalistas, não se apliquem relações de produção capitalistas, mas relações de produção feudais ou semifeudais, pré-capitalistas – diversas modalides de renda-trabalho ou renda-produto e demais formas de coação extra-econômica sobre os trabalhadores, como a meação, terça, quarta, sistema de peonagem, barracão, etc.

Nos dias de hoje, sob o constante aliciamento dos usineiros, verdadeiros senhores de terras cujas propriedades ultrapassam 28 mil hectares, as pouquíssimas famílias camponesas que resistiram aos ataques lutam pela posse de seus minúsculos minifúndios de 2 ou 3 hectares de terra, indo de encontro aos latifundiários que lutam para manter intocável o monopólio secular da terra. Dona Maria, camponesa que há décadas reside no local e herdou meio hectare de terra de seu pai, que trabalhou nela durante mais de 60 anos, denuncia com audácia os ataques e o aliciamento dos jagunços a serviço dos usineiros. Tal situação deplorável denuncia, por um lado, a persistência e a coexistência do atraso na sociedade brasileira, de outro, o fracasso do programa de “reforma agrária” do Estado burocrático burguês-latifundiário e a necessidade da Revolução Agrária que liquide a exploração de séculos do latifúndio e distribua as terras aos camponeses sem terra ou com pouca terra, tendo como princípio a consigna “terra para quem trabalha nela”.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Declaração de Eduardo Artés, Primeiro-Secretário do Partido Comunista Chileno (Ação Proletária), sobre as manifestações no Brasil


Indignados no Brasil

Aspectos gerais
Os meios de imprensa mostram grandes manifestações, trincheiras e enfrentamentos no Brasil, os quais têm como causa as insatisfações populares, o rechaço ao aumento dos preços das passagens de transporte público e aos efeitos da política capitalista neoliberal.

A presidenta Dilma, sucessora de Lula, diz que “devem ser ouvidas as vozes das ruas e seus direitos sociais”. Está claro que há o protesto popular, há demandas a serem satisfeitas, e importantes setores das massas saíram às ruas. Agora, é necessário refletir sobre o que acontece, sobre o porquê de os analistas a soldo do capital estejam comparando tais protestos às chamadas “primaveras áraves” que, no final das contas, se transformaram em invernos obscursos e pro-imperialistas.

De acordo com as informações mais precisas, já e claro que os setores mais reacionários e inclusive abertamente fascistas façam grandes esforços para dirigir o mal-estar e as demandas populares, que se mobilizam por trás da “bandeira do Brasil”, que cantan o “hino do Brasil”, que gritam sobre o “orgulho de ser brasileiro”, “fora médicos cubanos”, “não à corrupção e ao vandalismo”, “volta dos militares”. Os grupos fascistas entraram em confronto com organizações que se reivindicam de esquerda e comunistas. Espacaram vários, destruíram suas bandeiras. Tudo isso aos gritos de “sem bandeiras, sem partidos”.

O PCR, Coletivo Bandeira Vermelha, PCO, PSTU, PCdoB, PT e outras organizações que assumem as manifestações enfrentam e são enfrentadas abertamente por bandos fascistas. Esses últimos, apoiando-se na ausência de uma política revolucionária das massas, tratam de fazer as manifestações desembocarem para um regime abertamente fascista.

Como é possível tal situação?
O primeiro que devemos ter em mente é que o regime de Dilma, assim como o anterior de Lula, não foram mais do que liberais. Administraram o Estado em benefício do capitalismo e inclusive do neoliberalismo, do desenvolvimento de uma “burguesia nacional”  com pretensões imperialistas, com grandes contradições com o imperialismo yanqui. Ao estarem comprometidos com a credibilidade política do regime, os partidos auto-proclamados de esquerda, como PT e PCdoB, perderam seus laços com as massas populares, tornando-as desorientadas política e ideologicamente. Divorciaram-nas do projeto político próprio e superior de sociedade, o socialismo. Este é um dos danos mais graves ao movimento popular, já que golpeia o pensamento operário e popular, comprometendo negativamente a imagem da esquerda e dos comunistas, tornando-os “responsáveis” pelos efeitos negativos da administração burguesa de turno e dando espaço para que os reacionários e fascistas se apresentem como uma “alternativa”, como um caminho para a superação das profundas contradições sociais existentes.

A política e prática reformistas, o abandono da ideologia revolucionária e progressista, do Comunismo, são responsáveis não só no Brasil como em todo o mundo capitalista pela desorientação política e ideológica das massas, pela prepotência e o avanço do fascismo. De que outra maneira poderemos explicar o que significou a ditadra militar fascista de Pinochet, e que hoje quem governe o Estado não sejam seus partidários? O que trouxe para o Chile a administração de Bachelet, sustentada pela chamada “esquerda” do PS, PPD e PPC administrando o Estado capitalistas, enquanto as massas pediam seus direitos e demandas?

Qual a atitude dos comunistas?
Em primeiro lugar, expressamos em nome do Partido Comunista Chileno (Ação Proletária) PC(AP) nossa solidariedade com a luta das demandas populares do povo brasileiro, com os importantes esforços dos comunistas para dar um caminho progressista para as manifestações, para impedir que as mesmas sejam tomadas pelos fascistas. Segundo, àqueles que se reivindicam comunistas e progressistas no Brasil que sejam parte da administração capitalista do Estado, que assumam uma política independente, operária e popular de incentivar as massas a abandonarem as ilusões pequeno-burguesas de “humanizar” o capitalismo. Terceiro, no caso de nosso país, é tirar as devidas lições do caso brasileiro, trabalhar para fortalecer a alternativa Democrática-Popular e Revolucionária, fazê-la visível frente aos olhos das maiorias. Combater o oportunismo das direções do PS e PC para com o projeto neoliberal de Bachelet. Dar credibilidade ao projeto socialista, ao caminho revolucionário. Fortalecer o entendimento político popular e evitar a pavimentação para um novo golpe militar fascista.

por Eduardo Artés
Primeiro-Secretário do Partido Comunista Chileno (Ação Prolétária)

domingo, 23 de junho de 2013

O pronunciamento de Dilma e os descaminhos das manifestações

Os temas das manifestações ainda seguem, atualmente, em voga. Sublinhamos inclusive que, após a manifestação do dia 20 de Junho, em São Paulo, que testemunhou um grande confronto entre democratas e fascistas na cidade, após a hegemonização dos protestos pela reação, tal tema causa maior interesse entre as grandes massas do povo que ainda permanecem longe das ruas. Há algumas horas, após a gerente Dilma Rousseff ter realizado seu pronunciamento onde fala sobre os supostos “cinco pactos para melhorar o Brasil”, pudemos ver que muitas confusões ainda subsistem na esquerda em geral, entre os democratas, progressistas, patriotas, socialistas, etc. Diante da importância de tais eventos, não podemos deixar de manifestar nossa opinião sobre os fins gerais nos quais, a nosso ver, tais movimentos poderão desembocar.


Os três caminhos a serem seguidos pelos protestos
Após certa experiência adquirida nas lutas urbanas e nos combates que aconteceram durante os protestos, refletimos que, atualmente, existem três caminhos nos quais podem desembocar as manifestações de massas:

1) O primeiro, e menos provável, é o de radicalização das lutas de massas dirigidas contra o velho Estado burguês-latifundiário e seu braço armado. Com o avanço do trabalho de massas feito por um verdadeiro Partido Comunista, revolucionário e Marxista-Leninista, as massas avançariam em sua experiência de luta, seriam livradas da influência do oportunismo, do reformismo e do fascismo e, a partir daí, poder-se-ia formar firmes quadros comunistas para o avanço da luta. Como já havíamos dito, contudo, tal possibilidade é a menos provável de acontecer, devido à inexistência, no Brasil, de um Partido Comunista verdadeiro, grande e organizado, capaz de influenciar de maneira concreta nos acontecimentos políticos.

2) O segundo caminho, mais provável de se tornar realidade, é o da “domesticação” e pacificação gerais do movimento de massas pela ação em conluio da velha imprensa reacionária com o oportunismo, representado principalmente pelo “Partido dos Trabalhadores”. O PT, no papel de partido socialdemocrata (ainda que em sua versão subdesenvolvida), oportunista e de gerente do Estado semicolonial, busca manter a estabilidade política de seu governo por meio da coorporativização do povo e total castração de sua capacidade combativa. Apesar de pontuais divergências com a velha imprensa, tal organização age, aqui, em total harmonia com a mesma. O pronunciamento feito no último dia 24 de Junho pela gerente Dilma Rousseff confirmou, de fato, que tal caminho é o que busca o PT.

3) O terceiro caminho, um caminho real e sem sombra de dúvidas o mais perigoso para todo o proletariado, é o da “radicalização ao avesso” do movimento de massas. Quer dizer, o da radicalização do movimento de massas que se volta não contra o velho Estado burguês-latifundiário e suas instituições, mas contra os partidos democráticos, socialistas, comunistas e contra as organizações sindicais. Após a cooptação geral da manifestação de 20 de junho pela reação, em São Paulo, pudemos presenciar tal fenômeno de maneira mais explícita. O fascismo se manifesta na forma de “antipartidarismo”, “antipetismo” e de um “nacionalismo” vazio. Infelizmente, muitos companheiros de outras organizações ainda prezam por deficiências em compreender tal questão. Ao contrário do que possam parecer para certos indivíduos, as recentes manifestações que foram tomadas por slogans desse tipo estavam longe, muito longe de ser “levantes populares contra o revisionismo” ou “levantes das massas contra os oportunistas”. Cabe lembrar que o fascismo, a princípio, aparece como um movimento de massas, com palavreados demagógicos anticapitalistas genéricos (“contra a corrupção”, etc.) e mesmo em defesa da violência. O fascismo, em sua forma de “antipartido”, ataca todos os partidos políticos, socialdemocratas, burgueses, comunistas, socialistas, democratas, revisionistas e oportunistas. Num momento de crise geral do capitalismo, não importa para a burguesia manter sua dominação através dos velhos métodos do parlamentarismo, mas através da abolição do parlamento e declaração da abertura ditadura fascista sobre o proletariado e as massas. Os rumos tomados pelas manifestações evidenciam uma vez mais que, sem a atividade consciente de um partido revolucionário, nenhuma transformação de fundo poderá se concretizar em nosso país. A tentativa da grande burguesia brasileira de hostilizar os partidos não visa, obviamente, atingir organizações burgueses e revisionistas, mas sim as organizações do proletariado revolucionário. Não podemos esquecer dessa lição ensinada pela história do movimento revolucionário com diversas experiências na Europa (fascismo, nazismo) e também América Latina (ditaduras militares). Com essas afirmações não pretendemos estimular um “pessimismo” dentro da esquerda, mas sim traçarmos uma correta analise da realidade brasileira atual para melhor intervimos nela. Ao participarmos das manifestações temos como objetivo “aprender com as massas”, ouvir suas demandas e demonstrar-lhes a necessidade da luta pelo socialismo, sempre com a bandeira vermelha em alto.


O conteúdo do discurso de Dilma e os seus “cinco pactos”
No discurso que fez à nação, Dilma Rousseff enunciou “cinco pactos” para estabelecer um suposto “acordo político” entre o governo e a população que está nas ruas. O discurso, como não poderia deixar de ser, foi saudado com entusiasmo por revisionistas, socialdemocratas e todo tipo de defensores da política de colaboração de classes do governo. Setores intelectualizados da pequena e média burguesia, defensores de primeira hora dos governos petistas, apresentam o tal pacto proposto por Dilma como panacéias que irão definitivamente salvar o Brasil da crise em que se encontra. Nada mais distante da realidade. Os pactos de Dilma Rousseff, além de genéricos, não vão à raiz dos problemas e não mostram para o povo como serão concretamente aplicados. É como se os graves problemas estruturais e seculares que o Brasil enfrenta fossem definitivamente sanados graças a decisões técnicas da presidência e uma união entre Governo, Estados e Prefeituras. Os “novos” passos do governo já começam errados, pois iludem as massas com discursos genéricos e demagógicos sobre “combate a corrupção” e “investimentos em educação”.

Os “novos” passos do governo são demagógicos, já que ao mesmo tempo em que clama por um pacto federativo pela “responsabilidade fiscal, que representa na prática cortes nos gastos públicos para pagar juros da dívida pública ao capital financeiro, fala em outros pactos genéricos, pela Reforma Política, essa grande esfinge que tratam como fosse a salvação da política burguesa e o fim da corrupção; pela Saúde, que fala em aumentar investimentos e contratar médicos estrangeiros para suprir a deficiência de atendimento causada pela distribuição dos profissionais; pela Educação, destinando o pouco que sobrou dos valores do petróleo e do Pré-sal à investimentos não identificados; e pelo Transporte público, que cria mais um Conselho e fala em números a serem gastos. Ou seja, segundo o discurso da presidente, a intenção é manter 49,6% do orçamento vinculados ao pagamento da dívida pública e ainda sim, aumentar os investimentos em saúde, educação e transporte. Um raciocínio que desrespeita a lógica matemática.

A intenção real é evidente: a partir dos temas genéricos explorados nas manifestações e justificados pela grande mídia monopolista, o Governo busca um pacto geral para tentar acalmar o clima de instabilidade criado no País, oferece “alternativas” para que tudo se mantenha como está. Apresenta a ideia de transformar a corrupção em crime hediondo, que ameaça uma punição mais severa aos corruptos, mas se cala sobre os corruptores e o sistema que produz tais relações necessariamente.

A situação impõe a necessidade da organização do proletariado
Frente à desorganização geral que pudemos constatar com a eclosão das manifestações, “o que fazer”? A fragilidade com que se apresenta atualmente a luta das massas parece confirmar as palavras que o camarada Lenin pronunciava há mais de 110 anos, quando dizia que “sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário”. Fica provado, portanto, que nenhum avanço é espontâneo. Somente um disciplinado e organizado partido proletário Marxista-Leninista poderá levar as lutas para a vitória, desviando-se dos caminhos das derrotas que hipoteticamente possam ser impostos pelo fascismo e o pacifismo. Ao contrário do que vociferam alguns intelectuais burgueses sobre uma suposta “Forma não-partido”, caminho seguro para o fracasso de qualquer experiência transformadora, nós reafirmamos a necessidade imperiosa do partido leninista para o avanço das revoluções no Brasil e em todo mundo. Fazemos um chamado para todos os marxistas-leninistas e para todos os comunistas em geral, para a necessidade de reconstruirmos o movimento comunista no Brasil, depurando o revisionismo e os oportunismos, de direita e de esquerda.

COLETIVO BANDEIRA VERMELHA
São Paulo, 23 de junho de 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

20 de Junho: Fascistas, não passarão!


Após a tentativa de cooptação das grandes manifestações contra o aumento das passagens, em São Paulo, pela velha reação fascista e lacaia, no dia 20 de junho todos os partidos e organizações democráticas, progressistas e populares se uniram numa nova manifestação independente e combativa contra o aumento da passagem e o avanço do fascismo. Apesar de o aumento das tarifas do transporte ter sido barrado, com redução de R$3,20 para R$3, a passagem segue sendo cara para um serviço de péssima qualidade.

Deve-se prosseguir com o protesto popular
A redução da tarifa foi, sem dúvida, uma grande vitória para o movimento democrático e popular e o povo paulistano. Contudo, São Paulo ainda segue sendo uma das capitais mundiais com uma das menores extensões de linhas metroviárias: aproximadamente 70 quilômetros de linhas de metrô para atender uma população de doze milhões de pessoas. Para termos uma ideia da má qualidade do transporte público, comparemos: A Cidade México, capital de outro país atrasado e semicolonial da América Latina, que iniciou a construção do metrô na mesma época que São Paulo, possui hoje mais de 201 quilômetros de linhas metroviárias para atender uma população de menos de nove milhões de habitantes. De 1995 a 2010, a linha metroviária de São Paulo foi estendida em apenas vinte e um quilômetros, o que significa uma média de cerca de 1,5 quilômetros de linhas metroviárias anualmente. Entre 2003 e 2006 a relação foi ainda pior: foram construídos 2,6 quilômetros de linhas metroviárias, uma média pífia de 650 metros por ano. De 1996 a 2011, a passagem acumulou uma alta de 263%. Caso o Estado tivesse a política de somente reparar a inflação sobre o preço, a tarifa, que em 1996 custava R$0,80, custaria hoje R$1,84.

Observamos, portanto: apesar da clara concessão feita pela prefeitura paulista em reduzir a tarifa em vinte centavos, tendo em vista abafar o protesto popular, a situação do transporte público da cidade ainda está longe de ser minimamente razoável. Aliás, segue pior mesmo quando comparada ao transporte público de muitos países subdesenvolvidos. Por conta disso, as manifestações pela melhoria do transporte público possuem total fundamento. É justo rebelar-se e dizer que os protestos devem prosseguir.

Unidade de todas as organizações democráticas, populares e operárias para rechaçar o fascismo e a ofensiva anticomunista
A manifestação de 19 de junho testemunhou uma enorme cooptação do movimento popular pelo fascismo e pela demagogia da velha imprensa. Via-se na passeata um enorme sentimento anticomunista e “reivindicações” há tempos levantadas pelas reacionárias oligarquias brasileiras, como a redução da maioridade penal e a volta do regime militar-fascista de 1964. Como todos puderam observar, os companheiros do PCR foram totalmente hostilizados e tiveram suas bandeiras rasgadas e pisoteadas por conta do fascismo travestido de “anti-partidarismo”. Não somente isso, como todos aqueles que levantavam bandeiras de organizações democráticas eram hostilizados e ameaçados. Felizmente, não fomos somente nós e o PCR quem percebeu o avanço do fascismo. Como consequência da guinada à direita da manifestação de 19 de junho, no dia seguinte toda a esquerda se uniu numa enorme e combativa manifestação para rechaçar o fascismo travestido de “nacionalismo” e “anti-partidarismo”. Estavam presentes conosco, na concentração no vão do MASP, organizações como Partido da Causa Operária, Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo e Liga Estratégia Revolucionária.

Por volta das 17h30, todos os militantes presentes saíram da concentração e rumaram para a Avenida Paulista. Mesmo pouquíssimo tempo depois da saída, foram imediatamente hostilizados pela outra manifestação, na avenida paralela, hegemonizada por elementos da reação. Ainda que vaiados pelos fascistas, militantes do PCO, PSTU, FRDDP, CBV e outras organizações levantaram de maneira corajosa as respectivas bandeiras vermelhas de suas organizações ao grito de palavras de ordem como “Abaixo o imperialismo e viva ao comunismo!”, o que fez com que os manifestantes reacionários, mesmo que em maior número, recuassem em suas provocações, que se resumiam em falar “Voltem pra Cuba!” ou “Abaixem as bandeiras!”. Minutos depois, todos os partidos políticos e organizações democráticas se uniram numa só manifestação do lado esquerdo da Avenida Paulista, que prosseguiu bem por cerca de duas horas, quando elementos provocadores da manifestação fascista tentaram agredir militantes do lado da esquerda. Toda corja de fascistas e anticomunistas hostilizavam militantes de esquerda e queimavam bandeiras vermelhas, utilizando bombas de gás lacrimogêneo e sprays de pimenta. Em resposta, a esquerda enfrentou com valentia os anticomunistas que tentavam avançar, apesar da vacilação de determinados elementos do nosso lado. Um skinhead nazista que ameaçava de maneira covarde os militantes de esquerda com palavrões e provocações incitando brigas foi ferido na cabeça com uma paulada desferida por democratas que estavam sendo agredidos, muito embora após a ação a imprensa reacionária tenha tentado apresenta-lo como um “advogado inocente” que estava “somente protestando”, mostrando muito bem que compactua com e apoia os atos de provocadores, mesmo quando vêm de nazi-fascistas declarados.

Provocadores de extrema-direita na manifestação na Avenida Paulista
Ainda que o saldo tenha sido de um ferido do lado da reação, e nenhum ferido do lado dos manifestantes democráticos e populares, fazemos o infeliz balanço de que a esquerda perdeu a batalha do 20 de junho. Toda a manifestação foi cercada pelos direitistas, que nos expulsaram sob pena de sermos cercados e espancados por estarmos em menor número. Após a dispersão da manifestação da esquerda e a tomada da rua na totalidade pela extrema-direita fascista, todos aqueles usavam roupas vermelhas ou portavam objetos com a mínima referência ao socialismo e ao comunismo eram ameaçados com facas e porretes em locais como a estação Consolação ou Paraíso. “Estranhamente”, nada disso foi divulgado pela velha imprensa, que teceu elogios aos “manifestantes contra partidos” que genericamente protestavam “contra a corrupção” e apoiou de maneira velada as agressões contra militantes de partidos políticos.

A perigosa situação que se desenvolve pode trazer graves retrocessos para o movimento operário e popular, caso tais canalhas fascistas não sejam ideologicamente combatidos. Mesmo estando a par de que nossas divergências com organizações como PCR, PCB, PSOL, PSTU, PCO etc. são divergências profundas, vamos nos solidarizar de maneira concreta e defende-las contra quaisquer atos hostis por parte dos elementos de extrema-direita. Damos nossa opinião pela unidade da esquerda na Frente Única Anti-Fascista para derrotar o inimigo principal, que é o perigo do fascismo que a cada dia mais aumenta.

A esmagadora maioria dos jovens manipulados pela reação e pelo fascismo para atacarem militantes de partidos políticos é de origem burguesa ou pequeno-burguesa. Apesar de muitos serem bem-intencionados e interessados nas mudanças, quase que a totalidade dos mesmos acabou servindo de massa de manobra para as ações mais vis, cooptados pelos setores mais atrasados das velhas oligarquias brasileiras. Infelizmente, a enorme falta de experiência de luta e despolitização dessa parcela da juventude pode fazer com que a mesma cometa os atos mais reacionários, anticomunistas, ainda que de maneira inconsciente. A tais elementos, dizemos:

Por favor, não mostrem hostilidades contra nós ou contra quaisquer militantes de partidos políticos durante as próximas manifestações que estão por vir. Não sirvam de massa de manobra para a elite reacionária brasileira e seus veículos midiáticos. Não nos tomem como seus inimigos porque não o somos, e se unam conosco contra o inimigo principal que é o perigo do retrocesso para o fascismo dos atuais protestos. Não se voltem contra aqueles que lutam há muito mais tempo que vocês e que também querem um Brasil melhor. Dizemos também sem qualquer telha de vacilação: A bandeira vermelha que hasteamos em todas as manifestações é a bandeira sagrada da Revolução Proletária, que representa a luta de milênios das massas trabalhadoras exploradas contra seus algozes. Qualquer um que tente rasga-la, queimá-la ou toma-la de nós será nosso inimigo, contra o qual exerceremos nosso justo direito de autodefesa. Todos aqueles que tentarem agredir fisicamente a qualquer um de nós e a nossos companheiros também serão contra-golpeados sem qualquer pena. Não hesitaremos em aplicar o velho lema bolchevique: “Opor a violência revolucionária à violência contrarrevolucionária.”

COLETIVO BANDEIRA VERMELHA
São Paulo, 21 de junho de 2013

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A guinada à extrema-direita das manifestações

Ataque ao PCR na Praça da Sé
Nós, do Coletivo Bandeira Vermelha, estivemos presentes mais uma vez nas manifestações contra o aumento da passagem. Desde o início da concentração, percebia-se a crescente cooptação do movimento pelos reacionários, que se manifestavam em slogans como “Sem vandalismo!” ou “Fora, partidos!”. Aos que possam nos criticar por um suposto pessimismo, oriundo da crescente despolitização dos protestos, dizemos que, infelizmente, está longe de se tratar somente disto. Na concentração de manifestantes na Catedral da Sé, encontravam-se “reivindicações” escritas em placas que, longe de serem genuínas reivindicações, pareciam muito mais com as velhas bandeiras levantadas pelos setores mais atrasados das oligarquias brasileiras. Sim, slogans como “Pela redução da maioridade penal”, “Abaixo a PEC 37”, “Fora médicos cubanos”, “Pela volta dos militares”, “Chega de corrupção!” eram algumas das “exigências” de grande parte dos manifestantes do protesto de 18 de junho. Somava-se isso ao patrioteirismo vazio – que nada tem a ver com o genuíno patriotismo popular e revolucionário que consiste em amar sua pátria e seu povo em luta contra o imperialismo –, aos ecos do “Hino Nacional” e às palavras de ordem reacionárias como “Abaixo o vandalismo!”.

Logo no início da concentração, tivemos o desgosto de testemunhar as hostilidades contra os companheiros do Partido Comunista Revolucionário (PCR) por estarem “levantando bandeiras”. Os mesmos reacionários inconscientes que lançavam palavras de ordem como “Viva à liberdade de expressão!” foram os que tentaram agredir fisicamente os companheiros do PCR. Não só fizeram isso como tiveram a coragem de cometer o ato vil e desumano de rasgar e pisotear a bandeira vermelha com a foice e martelo que simboliza o emblema do partido. Não, não se trata tão somente do símbolo do PCR. A bandeira vermelha com a foice e martelo é a bandeira da Revolução proletária, forjada através da luta de séculos do proletariado e de todos os trabalhadores contra seus opressores, bandeira essa que inspirou a luta de milhões de trabalhadores por todo o globo a marchar para a construção de uma nova sociedade livre de toda a exploração e opressão, sem guerras e sem miséria. A bandeira vermelha da foice e martelo inspirou e segue inspirando a luta revolucionária de todos os trabalhadores, independente a qual pátria pertençam. A atitude que tiveram tais canalhas ao pisotear a bandeira vermelha da Revolução foi, portanto, um ato fascista, que demonstra o elevado grau de degeneração moral ao qual chegaram todos os burgueses na etapa do imperialismo, que não mais possuem a mínima dignidade sequer de respeitar todos aqueles que morreram assassinados, de fome e torturados por levantarem alto a bandeira vermelha da Revolução.

Não pararam por aí as atitudes vis dos reacionários infiltrados na manifestação carola de 18 de junho. Também os companheiros do Partido da Causa Operária (PCO) foram duramente hostilizados pelos reacionários por levantarem bandeiras vermelhas (“Bandeiras de partidos!”) durante o ato. Ironicamente, os fascistas que gritavam “vivas” ao regime militar-fascista pós-64, que martirizou e torturou os melhores filhos da Nação brasileira, não receberam qualquer repreensão. Muito pelo contrário: quando o eco da manifestação não ia além de objetivos vagos como o “fim da corrupção”, tais fascistas eram muito bem recebidos.

Pelas atitudes de grande parte dos “manifestantes” de 18 de junho, o grau de cooptação do movimento pela reação parece ter ido além da questão de dirigi-lo para um caminho que mantivesse intacto o sistema burguês. Trata-se agora de encontrar um terreno ideológico favorável para a volta da ditadura aberta e mais reacionária do imperialismo, dos latifundiários e grandes capitalistas, a ditadura fascista. Os partidos e organizações de esquerda precisam formar uma Frente Única contra o fascismo nos próximos atos, levantando a bandeira da revogação do aumento da passagem e denunciando veementemente a fascistização das manifestações. Devemos deixar bem claro que fascistas e reacionários não serão bem vindos e se ousarem rasgar nossas bandeiras vermelhas, soferão as consequências. Também deixamos claro que o Coletivo Bandeira Vermelha não servirá de massa de manobra para a direita golpista e não aceitaremos que fascistas marchem ao nosso lado.

COLETIVO BANDEIRA VERMELHA
São Paulo, 19 de junho de 2013

terça-feira, 18 de junho de 2013

Da necessidade de organização e o oportunismo da Direita: nota sobre o 5º ato contra o aumento da passagem


A Avenida Paulista hoje foi tomada. Tomada pela reação, ou ao menos a parte útil a ela, como os militantes do Coletivo puderam presenciar. Enquanto outros lugares da cidade como o Largo da Batata e Av. Morumbi em frente ao Palácio dos Bandeirantes eram tomados, na Paulista o que menos se ouvia eram as palavras de ordem do ato contra o aumento das passagens. O mesmo cenário dos protestos combativos das semanas anteriores não se repetia. Ao invés disto, toda a fauna esteve presente: desde os libertários, que acreditam que todos os problemas do mundo se ligam diretamente a uma ineficiência do Estado e falta de livre mercado segundo qualquer “economista” austríaco obscuro; dos jovens de classe média que se autoproclamam “apartidários” como se o próprio ato dessa confissão de fé não fosse reacionário e que estão contra a corrupção mas não contra o capitalismo já que não aprenderam a fazer essa elementar relação de efeito e causa; até mesmo um grupo de neonazistas, aquela degenerescência humana que insiste em se reproduzir. Todas essas figuras transformavam o ato contra o aumento da passagem em mera ocasião para desabafar as frustrações pessoais sobre um quadro político que pouco entendem mas que querem rejeitar.

Esse fenômeno visto nesta segunda-feira é fruto de uma nova tática da imprensa burguesa que, após ver sua primeira tentativa de demonizar o movimento com acusações de vandalismo que foi prontamente negada pelas informações que correram a internet, agora tenta abraçar a “causa”, cooptar o movimento que passa a ser caracterizado como algo que vai além dos R$ 0,20 e que os atos protestam contra tudo e todos da política (menos aqueles da eventual preferência dos veículos), além do que, também tentarão caracterizar o “bom manifestante” e o “mau manifestante”, o primeiro aquele que protesta pacificamente contra o monstro da corrupção e que vai mudar o País mas que não se rende a nenhum partido, e o segundo, justamente os que sempre estiveram presentes apoiando o movimento e agora são definidos por dogmáticos e violentos que tentam controlar tudo para atender seus interesses partidários e que por isso, qualquer manifestação desses devem ser rechaçadas pela massa.

O MPL e os partidos e movimentos de esquerda, que sempre estiveram presentes na discussão do transporte público da cidade e nas manifestações contra os aumentos das passagens, precisar agir rápido e dar uma resposta a esta tentativa da direita e da mídia burguesa de esvaziar os atos em meras confraternizações entre “indignados” que mal sabem explicar por que exatamente se indignaram. Deve-se buscar uma unidade de ação para o movimento, ainda que causem contradições inevitáveis. A estruturação horizontal e ausência de lideranças só funcionam em ensaios abstratos de casos poucos efetivos. Para dar respostas a situações concretas e urgentes, esse tipo de organização nunca pôde, não pode e nem poderá gerar resultados satisfatórios. Deve-se tomar a frente dos protestos; deixar claro a reivindicação da revogação do aumento da tarifa e denúncia do escandaloso monopólio dos transportes na cidade de São Paulo, que demanda milionários subsídios da Prefeitura mas que mantém ao mesmo tempo lucros não menos grandiosos e, desta forma, determinar o caráter anticapitalista do movimento. Ao assumir posição firme diante dos fatos o movimento dará um passo fundamental para sua consolidação, derrotará o oportunismo da direita e conquistará cada vez mais a massa de trabalhadores e trabalhadores para a sua causa.

COLETIVO BANDEIRA VERMELHA
São Paulo, 18 de junho de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

Nota de apoio às manifestações contra o aumento da passagem


Durante a última semana, São Paulo foi palco de duas grandes manifestações contra o aumento da passagem de ônibus, trem e metrô. Os trabalhadores e, sobretudo a juventude, foram as ruas para demonstrar sua insatisfação diante dos abusos cometidos pelas autoridades municipais e estaduais. As manifestações, que reuniram milhares de pessoas, foram violenta e covardemente reprimidas pelas tropas da Polícia Militar, em nome de um suposto vandalismo dos manifestantes, como a grande mídia, sempre submetida aos interesses do capital e dos setores mais reacionários, tentou justificar, mas que foi prontamente rebatida pelas centenas de registros da violência policial divulgadas pela internet.

Enquanto isso, ainda em Paris, onde foram atender os interesses dos grandes empresários da cidade, os gerentes do velho Estado, governador Geraldo Alckmin e prefeito Fernando Haddad, não se furtaram de ir para os holofotes para fazer o discurso do monopólio do transporte e justificar a ação repressiva aos manifestantes que exigiam a revogação do aumento.

O resultado deste cenário fica cada vez mais claro, as ilusões que o povo possuía a respeito da democracia burguesa se reduzem a pó; liberdade de expressão, direito de ir e vir, segurança jurídica, entre outros embustes criados pela ideologia dominante para esconder os verdadeiros interesses do capital caem por terra quando uma manifestação pacífica representa uma postura crítica e reivindicatória. O que vimos nesses últimos dias é caráter do velho Estado brasileiro, sem sua máscara de legalidade, seja ela representada por tucanos ou estrelas; repressão aberta a quem quer que ouse questionar os interesses do grande capital e defender o interesse dos trabalhadores e estudantes. Nós do CBV declaramos nosso apoio integral as manifestações e conclamamos que prossigam os protestos populares. Solidarizamo-nos com todos os manifestantes presos arbitrariamente pela polícia e com todos os feridos pela ação nefasta do Estado e da Prefeitura de São Paulo.Como dizia o Presidente Mao: “Rebelar-se é justo!”.

COLETIVO BANDEIRA VERMELHA
São Paulo, 15 de junho de 2013