segunda-feira, 24 de junho de 2013

Declaração de Eduardo Artés, Primeiro-Secretário do Partido Comunista Chileno (Ação Proletária), sobre as manifestações no Brasil


Indignados no Brasil

Aspectos gerais
Os meios de imprensa mostram grandes manifestações, trincheiras e enfrentamentos no Brasil, os quais têm como causa as insatisfações populares, o rechaço ao aumento dos preços das passagens de transporte público e aos efeitos da política capitalista neoliberal.

A presidenta Dilma, sucessora de Lula, diz que “devem ser ouvidas as vozes das ruas e seus direitos sociais”. Está claro que há o protesto popular, há demandas a serem satisfeitas, e importantes setores das massas saíram às ruas. Agora, é necessário refletir sobre o que acontece, sobre o porquê de os analistas a soldo do capital estejam comparando tais protestos às chamadas “primaveras áraves” que, no final das contas, se transformaram em invernos obscursos e pro-imperialistas.

De acordo com as informações mais precisas, já e claro que os setores mais reacionários e inclusive abertamente fascistas façam grandes esforços para dirigir o mal-estar e as demandas populares, que se mobilizam por trás da “bandeira do Brasil”, que cantan o “hino do Brasil”, que gritam sobre o “orgulho de ser brasileiro”, “fora médicos cubanos”, “não à corrupção e ao vandalismo”, “volta dos militares”. Os grupos fascistas entraram em confronto com organizações que se reivindicam de esquerda e comunistas. Espacaram vários, destruíram suas bandeiras. Tudo isso aos gritos de “sem bandeiras, sem partidos”.

O PCR, Coletivo Bandeira Vermelha, PCO, PSTU, PCdoB, PT e outras organizações que assumem as manifestações enfrentam e são enfrentadas abertamente por bandos fascistas. Esses últimos, apoiando-se na ausência de uma política revolucionária das massas, tratam de fazer as manifestações desembocarem para um regime abertamente fascista.

Como é possível tal situação?
O primeiro que devemos ter em mente é que o regime de Dilma, assim como o anterior de Lula, não foram mais do que liberais. Administraram o Estado em benefício do capitalismo e inclusive do neoliberalismo, do desenvolvimento de uma “burguesia nacional”  com pretensões imperialistas, com grandes contradições com o imperialismo yanqui. Ao estarem comprometidos com a credibilidade política do regime, os partidos auto-proclamados de esquerda, como PT e PCdoB, perderam seus laços com as massas populares, tornando-as desorientadas política e ideologicamente. Divorciaram-nas do projeto político próprio e superior de sociedade, o socialismo. Este é um dos danos mais graves ao movimento popular, já que golpeia o pensamento operário e popular, comprometendo negativamente a imagem da esquerda e dos comunistas, tornando-os “responsáveis” pelos efeitos negativos da administração burguesa de turno e dando espaço para que os reacionários e fascistas se apresentem como uma “alternativa”, como um caminho para a superação das profundas contradições sociais existentes.

A política e prática reformistas, o abandono da ideologia revolucionária e progressista, do Comunismo, são responsáveis não só no Brasil como em todo o mundo capitalista pela desorientação política e ideológica das massas, pela prepotência e o avanço do fascismo. De que outra maneira poderemos explicar o que significou a ditadra militar fascista de Pinochet, e que hoje quem governe o Estado não sejam seus partidários? O que trouxe para o Chile a administração de Bachelet, sustentada pela chamada “esquerda” do PS, PPD e PPC administrando o Estado capitalistas, enquanto as massas pediam seus direitos e demandas?

Qual a atitude dos comunistas?
Em primeiro lugar, expressamos em nome do Partido Comunista Chileno (Ação Proletária) PC(AP) nossa solidariedade com a luta das demandas populares do povo brasileiro, com os importantes esforços dos comunistas para dar um caminho progressista para as manifestações, para impedir que as mesmas sejam tomadas pelos fascistas. Segundo, àqueles que se reivindicam comunistas e progressistas no Brasil que sejam parte da administração capitalista do Estado, que assumam uma política independente, operária e popular de incentivar as massas a abandonarem as ilusões pequeno-burguesas de “humanizar” o capitalismo. Terceiro, no caso de nosso país, é tirar as devidas lições do caso brasileiro, trabalhar para fortalecer a alternativa Democrática-Popular e Revolucionária, fazê-la visível frente aos olhos das maiorias. Combater o oportunismo das direções do PS e PC para com o projeto neoliberal de Bachelet. Dar credibilidade ao projeto socialista, ao caminho revolucionário. Fortalecer o entendimento político popular e evitar a pavimentação para um novo golpe militar fascista.

por Eduardo Artés
Primeiro-Secretário do Partido Comunista Chileno (Ação Prolétária)

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