domingo, 23 de junho de 2013

O pronunciamento de Dilma e os descaminhos das manifestações

Os temas das manifestações ainda seguem, atualmente, em voga. Sublinhamos inclusive que, após a manifestação do dia 20 de Junho, em São Paulo, que testemunhou um grande confronto entre democratas e fascistas na cidade, após a hegemonização dos protestos pela reação, tal tema causa maior interesse entre as grandes massas do povo que ainda permanecem longe das ruas. Há algumas horas, após a gerente Dilma Rousseff ter realizado seu pronunciamento onde fala sobre os supostos “cinco pactos para melhorar o Brasil”, pudemos ver que muitas confusões ainda subsistem na esquerda em geral, entre os democratas, progressistas, patriotas, socialistas, etc. Diante da importância de tais eventos, não podemos deixar de manifestar nossa opinião sobre os fins gerais nos quais, a nosso ver, tais movimentos poderão desembocar.


Os três caminhos a serem seguidos pelos protestos
Após certa experiência adquirida nas lutas urbanas e nos combates que aconteceram durante os protestos, refletimos que, atualmente, existem três caminhos nos quais podem desembocar as manifestações de massas:

1) O primeiro, e menos provável, é o de radicalização das lutas de massas dirigidas contra o velho Estado burguês-latifundiário e seu braço armado. Com o avanço do trabalho de massas feito por um verdadeiro Partido Comunista, revolucionário e Marxista-Leninista, as massas avançariam em sua experiência de luta, seriam livradas da influência do oportunismo, do reformismo e do fascismo e, a partir daí, poder-se-ia formar firmes quadros comunistas para o avanço da luta. Como já havíamos dito, contudo, tal possibilidade é a menos provável de acontecer, devido à inexistência, no Brasil, de um Partido Comunista verdadeiro, grande e organizado, capaz de influenciar de maneira concreta nos acontecimentos políticos.

2) O segundo caminho, mais provável de se tornar realidade, é o da “domesticação” e pacificação gerais do movimento de massas pela ação em conluio da velha imprensa reacionária com o oportunismo, representado principalmente pelo “Partido dos Trabalhadores”. O PT, no papel de partido socialdemocrata (ainda que em sua versão subdesenvolvida), oportunista e de gerente do Estado semicolonial, busca manter a estabilidade política de seu governo por meio da coorporativização do povo e total castração de sua capacidade combativa. Apesar de pontuais divergências com a velha imprensa, tal organização age, aqui, em total harmonia com a mesma. O pronunciamento feito no último dia 24 de Junho pela gerente Dilma Rousseff confirmou, de fato, que tal caminho é o que busca o PT.

3) O terceiro caminho, um caminho real e sem sombra de dúvidas o mais perigoso para todo o proletariado, é o da “radicalização ao avesso” do movimento de massas. Quer dizer, o da radicalização do movimento de massas que se volta não contra o velho Estado burguês-latifundiário e suas instituições, mas contra os partidos democráticos, socialistas, comunistas e contra as organizações sindicais. Após a cooptação geral da manifestação de 20 de junho pela reação, em São Paulo, pudemos presenciar tal fenômeno de maneira mais explícita. O fascismo se manifesta na forma de “antipartidarismo”, “antipetismo” e de um “nacionalismo” vazio. Infelizmente, muitos companheiros de outras organizações ainda prezam por deficiências em compreender tal questão. Ao contrário do que possam parecer para certos indivíduos, as recentes manifestações que foram tomadas por slogans desse tipo estavam longe, muito longe de ser “levantes populares contra o revisionismo” ou “levantes das massas contra os oportunistas”. Cabe lembrar que o fascismo, a princípio, aparece como um movimento de massas, com palavreados demagógicos anticapitalistas genéricos (“contra a corrupção”, etc.) e mesmo em defesa da violência. O fascismo, em sua forma de “antipartido”, ataca todos os partidos políticos, socialdemocratas, burgueses, comunistas, socialistas, democratas, revisionistas e oportunistas. Num momento de crise geral do capitalismo, não importa para a burguesia manter sua dominação através dos velhos métodos do parlamentarismo, mas através da abolição do parlamento e declaração da abertura ditadura fascista sobre o proletariado e as massas. Os rumos tomados pelas manifestações evidenciam uma vez mais que, sem a atividade consciente de um partido revolucionário, nenhuma transformação de fundo poderá se concretizar em nosso país. A tentativa da grande burguesia brasileira de hostilizar os partidos não visa, obviamente, atingir organizações burgueses e revisionistas, mas sim as organizações do proletariado revolucionário. Não podemos esquecer dessa lição ensinada pela história do movimento revolucionário com diversas experiências na Europa (fascismo, nazismo) e também América Latina (ditaduras militares). Com essas afirmações não pretendemos estimular um “pessimismo” dentro da esquerda, mas sim traçarmos uma correta analise da realidade brasileira atual para melhor intervimos nela. Ao participarmos das manifestações temos como objetivo “aprender com as massas”, ouvir suas demandas e demonstrar-lhes a necessidade da luta pelo socialismo, sempre com a bandeira vermelha em alto.


O conteúdo do discurso de Dilma e os seus “cinco pactos”
No discurso que fez à nação, Dilma Rousseff enunciou “cinco pactos” para estabelecer um suposto “acordo político” entre o governo e a população que está nas ruas. O discurso, como não poderia deixar de ser, foi saudado com entusiasmo por revisionistas, socialdemocratas e todo tipo de defensores da política de colaboração de classes do governo. Setores intelectualizados da pequena e média burguesia, defensores de primeira hora dos governos petistas, apresentam o tal pacto proposto por Dilma como panacéias que irão definitivamente salvar o Brasil da crise em que se encontra. Nada mais distante da realidade. Os pactos de Dilma Rousseff, além de genéricos, não vão à raiz dos problemas e não mostram para o povo como serão concretamente aplicados. É como se os graves problemas estruturais e seculares que o Brasil enfrenta fossem definitivamente sanados graças a decisões técnicas da presidência e uma união entre Governo, Estados e Prefeituras. Os “novos” passos do governo já começam errados, pois iludem as massas com discursos genéricos e demagógicos sobre “combate a corrupção” e “investimentos em educação”.

Os “novos” passos do governo são demagógicos, já que ao mesmo tempo em que clama por um pacto federativo pela “responsabilidade fiscal, que representa na prática cortes nos gastos públicos para pagar juros da dívida pública ao capital financeiro, fala em outros pactos genéricos, pela Reforma Política, essa grande esfinge que tratam como fosse a salvação da política burguesa e o fim da corrupção; pela Saúde, que fala em aumentar investimentos e contratar médicos estrangeiros para suprir a deficiência de atendimento causada pela distribuição dos profissionais; pela Educação, destinando o pouco que sobrou dos valores do petróleo e do Pré-sal à investimentos não identificados; e pelo Transporte público, que cria mais um Conselho e fala em números a serem gastos. Ou seja, segundo o discurso da presidente, a intenção é manter 49,6% do orçamento vinculados ao pagamento da dívida pública e ainda sim, aumentar os investimentos em saúde, educação e transporte. Um raciocínio que desrespeita a lógica matemática.

A intenção real é evidente: a partir dos temas genéricos explorados nas manifestações e justificados pela grande mídia monopolista, o Governo busca um pacto geral para tentar acalmar o clima de instabilidade criado no País, oferece “alternativas” para que tudo se mantenha como está. Apresenta a ideia de transformar a corrupção em crime hediondo, que ameaça uma punição mais severa aos corruptos, mas se cala sobre os corruptores e o sistema que produz tais relações necessariamente.

A situação impõe a necessidade da organização do proletariado
Frente à desorganização geral que pudemos constatar com a eclosão das manifestações, “o que fazer”? A fragilidade com que se apresenta atualmente a luta das massas parece confirmar as palavras que o camarada Lenin pronunciava há mais de 110 anos, quando dizia que “sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário”. Fica provado, portanto, que nenhum avanço é espontâneo. Somente um disciplinado e organizado partido proletário Marxista-Leninista poderá levar as lutas para a vitória, desviando-se dos caminhos das derrotas que hipoteticamente possam ser impostos pelo fascismo e o pacifismo. Ao contrário do que vociferam alguns intelectuais burgueses sobre uma suposta “Forma não-partido”, caminho seguro para o fracasso de qualquer experiência transformadora, nós reafirmamos a necessidade imperiosa do partido leninista para o avanço das revoluções no Brasil e em todo mundo. Fazemos um chamado para todos os marxistas-leninistas e para todos os comunistas em geral, para a necessidade de reconstruirmos o movimento comunista no Brasil, depurando o revisionismo e os oportunismos, de direita e de esquerda.

COLETIVO BANDEIRA VERMELHA
São Paulo, 23 de junho de 2013

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